Para fortalecer o embate com o PT nas eleições municipais de São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) convocou artistas e intelectuais a um engajamento pela "recuperação moral" do Brasil, numa referência indireta ao julgamento do escândalo do mensalão. FHC liderou na tarde desta terça-feira um ato da campanha do candidato do PSDB a prefeito, José Serra, em um encontro com a "classe artística" paulistana. O ex-presidente reforçou o discurso ético adotado pela equipe tucana, que disputa com Fernando Haddad (PT) uma vaga no segundo turno.
"É um momento de chamamento que vai além do banal, além do usual, porque temos ao mesmo tempo uma possibilidade de recuperação. Embora digam que é melhor não entrar em determinadas questões porque elas não interessam ao eleitorado, é também um momento de recuperação moral", disse FHC para uma plateia formada por artistas e intelectuais do quilate do reitor da Universidade de São Paulo (USP), João Grandino Rodas, o cantor Agnaldo Timóteo, a atriz Bruna Lombardi, o maestro Julio Medaglia, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer e o ator Odilon Wagner.
Apesar de não citar especificamente o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federa (STF), que tem líderes do PT entre seus réus, o ex-presidente ouviu Serra e aliados ligarem o escândalo ao partido de Haddad. FHC preferiu mais discrição.
"Não é difícil perceber que nós vivemos um daqueles momentos de densidade histórica. Depois de vários anos em que o Brasil ganhou democracia, conseguiu avanços econômicos e avanços sociais, esta mesma democracia começa a ser minada por dentro pela falta de crença que advém da percepção que existe no País por práticas correntes e recorrentes", afirmou o ex-presidente.
O sociólogo tentou diversas vezes humanizar o seu colega de partido. “O Serra tem uma característica que precisa ser ressaltada: ele se dá bem com as crianças. Pode parecer fora de moda e inapropriado falar disso, mas não é”, afirmou o ex-presidente. “O Serra é uma pessoa que é capaz de expressar amor do jeito que ele é, que é um jeito que disfarça as virtudes.”
Ao tomar o microfone, Serra atacou indiretamente o "fisiologismo" e o "aparelhamento" do governo federal pelo PT. E citou o julgamento no STF. "Essa questão que está no Supremo Tribunal Federal, esse julgamento, é o começo do fim da impunidade no Brasil", disse o candidato. "Temos que voltar a valorizar a ética e a moral."