Na próxima terça-feira (17), centenas
de produtores de cana revoltados com a decisão da negociação de cinco engenhos
da usina Cruangi com o governo estadual, reúnem-se às 9h, no Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Nazaré da Mata. Os agricultores discutirão quais
medidas vão tomar diante das desapropriações que os revoltaram, porque, de
acordo com a Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP) e o
Sindicato dos Cultivadores de Cana do Estado (Sindicape), a ação vai
inviabilizar o pagamento da dívida de R$ 5 milhões da usina com os canavieiros,
situação que estava sendo negociada, inclusive com o governo.
Os engenhos desapropriados são o
Cumbe, Juliãozinho, Jussara, Jussarinha e o Trincheiras, todas da Cruangi, em
Timbaúba. As propriedades da Usina Pumaty foram os engenhos Arranca e Almecega,
no município de Água Preta. As desapropriações foram divulgadas nesta
terça-feira (10), no Diário Oficial do Estado. “A maioria desses engenhos da
Cruangi estava arrendada a produtores de cana”, diz o presidente da AFCP,
Alexandre Andrade Lima, lembrando que a AFCP e o Sindicape já negociavam uma
das áreas como forma de pagamento das dívidas com os agricultores.
Lima informa que a negociação do
engenho Jussara, por exemplo, já estava bem avançada com a diretoria da
Cruangi. O negócio aguardava a usina negociar com o arrendatário da área. O
engenho seria utilizado para pagar a dívida com os produtores de cana. “Mas, a
desapropriação nos surpreendeu e até o próprio arrendatário”, diz. O dirigente
ressalta conhecer que as usinas podem negociar seus engenhos com o Estado
quando têm dívidas com ele, conforme prevê a lei, mas esperava que neste caso,
tendo em vista que ambas as usinas estão fechadas e devendo aos seus
trabalhadores e aos fornecedores, houvesse uma intervenção propositiva do
governo, para resolver o caso na intenção de fazer com que as usinas voltarem a
funcionar, evitando o caos social.
“Os ex-funcionários das usinas contam
com as leis trabalhistas para lhes defenderem, o que é muito justo, mas qual
lei que protege o agricultor”, questiona Lima. Ele destaca que ao fornecer a
cana para estas usinas, que ainda não pagaram, os agricultores cumpriram com as
obrigações, a começar com os seus trabalhadores.
O dirigente lembra que há outro
problema com as desapropriações. Três dos cinco engenhos da Cruangi estão
arrendados por famílias há pelo menos 75 anos. É o caso dos engenhos Jussarinha
e Jussara com 666 e 291 hectares respectivamente. O Trincheiras remonta ao ano
de 1937. “Como estão há muito tempo no local, são praticamente donos desses
engenhos. Os contratos com a usina é por tempo indeterminado. Assim, na
prática, a desapropriação dessas propriedades trará grande prejuízo para estas
famílias, pois serão indenizadas somente pelas benfeitorias existentes na
propriedade, mas não pelo tempo que iriam produzir nas terras. Se a usina
tivesse de negociar a saída delas, seria diferente”, diz Lima. Neste contexto,
ele garante que se a AFCP e o Sindicape estivesse participado do debate sobre
as desapropriações, poderia ter evitado este e outros problemas exclusivo para
o fornecedor de cana.
O dirigente ressalta que no início das negociações até que participou da
discussão com a usina e com o governo, mas depois não foi mais convidado,
acreditando que as negociações estavam suspensas. A posição dos fornecedores de
cana era para o governo desapropriar uma área maior, pois daria para as usinas
se capitalizarem, a fim de que elas pagassem os passivos com os agricultores e
voltarem a moer. “Não entendemos porque não foi desapropriada uma área de 11
mil hectares da usina Maravilha, já que as áreas desapropriadas serão usadas
para o polo automotivo do estado, e estas terras estão bem próximas da Fiat”,
critica.
Além do mais, Lima diz que alguns das propriedades escolhidas para serem
desapropriadas são de difícil acesso. “Não é possível que o governo não tenha
visto isto”, pergunta. O dirigente diz não entender o porquê o Estado está
atendendo o desejo dos empresários da usina, mesmo sendo estes empresários
responsáveis pelo passivo social sem precedentes na região, com o fechamento
das unidades industriais.
Robério Coutinho
Assessoria de Imprensa da AFCP