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FÁBIO GUIBU - ENVIADO ESPECIAL A CAETÉS (PE) - Folha de SP
A seca que castiga a zona rural do Nordeste avança sobre áreas urbanas,
provocando colapso no fornecimento de água em povoados e cidades como
Caetés, ex-distrito de Garanhuns localizado no agreste pernambucano.
Terra natal do ex-presidente Lula, Caetés (cerca de 30 mil habitantes) é
abastecida hoje só por carros-pipa do Exército, do Estado e da
prefeitura.
A água sai das torneiras uma vez por mês e, ainda assim, não dura mais
que poucas horas. Tambores de plástico azul tomam as calçadas em frente
às casas. Carrinhos de mão e carroças puxadas por jegues são usados para
transportar galões e baldes.
Nas casas, os moradores mantêm estoques de água "boa", utilizada para
consumo humano e produção de alimentos, e de "uso", para louças e
higiene pessoal.
Na periferia, a água escura e salobra de uma cacimba (reservatório) é
recolhida e vendida a R$ 5 o galão de 250 litros. "Para beber não serve,
mas as pessoas querem assim mesmo", diz o agricultor José Cícero
Vicente da Silva, 42.
Agricultor toma banho após recolher água para consumo em açude na zona rural de Paranatama, em Pernambuco |
Sem chuva para plantar milho e feijão, Silva vende o produto para ajudar
a sustentar a família. "É o jeito. Da terra não tem mais o que tirar."
Para o ex-secretário da Agricultura de Caetés Bolbinécio Antunes
Ferreira, 37, a situação é de "calamidade". "Toda a cidade usa latinha
até para tomar banho."