A pandemia aprofundou as
desigualdades sociais no Brasil, um quadro grave inclusive quando comparado a
uma média de 40 países, segundo recente pesquisa da Fundação Getúlio Vargas.
Essa deterioração atingiu mais severamente os 40% mais pobres em áreas cruciais
como saúde e educação, incluindo a capacidade de aprendizagem das crianças, e
meio ambiente. Em Pernambuco, este quadro de
fragilidade social atinge níveis ainda mais críticos. Dados da última pesquisa
do Centro de Liderança Pública e Tendências Consultoria, que compara os Estados
brasileiros, aponta que Pernambuco alcançou a 17ª posição no pilar de
sustentabilidade social, ficando abaixo do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do
Norte. Neste pilar, são indicadores
muito preocupantes para o Estado a inserção econômica dos jovens (24ª) e a
desigualdade de renda medida pelo índice de Gini (22ª). Esse quadro é agravado
porque Pernambuco liderou no segundo trimestre deste ano a taxa de desemprego
do País (21,6%), acima da média do Nordeste (18,2%) e do Brasil (14,1%). Em
2020, segundo o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri,
Pernambuco foi um dos Estados mais afetados quando se considera apenas a renda
do trabalho. Essa condição permanece em 2021.
Os dados ainda revelam que Pernambuco é um dos estados que mais dependem de
transferência de renda do Governo Federal. Entretanto, quando olhamos
para as ações estaduais, pouco tem sido feito para oferecer melhores
perspectivas no mercado de trabalho. O nosso ambiente de negócios foi
considerado o pior do País pelo ranking do Banco Mundial. Acumulamos centenas
de obras inacabadas e os investimentos estaduais nos últimos cinco anos
situaram-se em média em um nível quase 50% inferiores aos realizados por Bahia
e o Ceará. Se considerarmos pelo tamanho das
economias, entre 2016 e 2019, o investimento público de Pernambuco como
proporção da receita corrente líquida foi da ordem de 4,3%, bem abaixo da
Paraíba (6,9%), Alagoas (9,2%) e Maranhão (9,5%). É um desafio, portanto, para
os futuros governantes, buscar um melhor ambiente para atrair investimentos
privados, ampliar os investimentos públicos, concluir obras estruturantes e
oferecer melhores condições para a inclusão dos nossos jovens no mercado de
trabalho. Dessa forma, reduziríamos a nossa dependência dos programas de
transferências de renda e melhoraríamos de forma mais sustentável as nossas
condições sociais.
Armando Monteiro Neto - Ex-senador e ex-Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior